segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Álvares de Azevedo e seu “spleen”

 

 

          Candido (2002) observa o jovem Azevedo como um escritor de espírito inquieto em face de sua juventude. Viveu apenas duas décadas, tendo-se apoiado no romantismo de Lorde Byron, Álvares de Azevedo apresenta em sua obra o desejo de revolta contra as normas sociais mundo com efeitos dramáticos de caráter individual. A influência byroniana faz-se em temas, em técnicas utilizadas, em citações e em epígrafes. Por seu turno, Roncari (2002) lembra-nos o Romantismo situa-se na transição do “Ancien Régime” para o ideal burguês, sendo que o poeta romântico sente saudades de tempos pretéritos em que havia maior contato com a paisagem natural, acabando por tornar-se

um inconformista, alguém que lamenta não apenas os limites da natureza e a falta de contato com o Absoluto, como também o mundo histórico em que vive, isto é, o mundo burguês, onde tudo é medido pelo que vale em moeda: os tecidos, os legumes, o trabalho, as ideias, os afetos, o amor. (RONCARI, 2002, p. 313).

 

O eu romântico considera-se intelectualmente acima da maioria dos demais humanos, somente ele sendo capaz de apresentar as agruras desse novo mundo, expressando-se em primeira pessoa, a fim de que o leitor sinta a dor do poeta, enaltecendo-o. O sujeito poético situa-se quase sempre no meio urbano, refratado da natureza, idealizando-a com sabores exóticos.

Candido (2002, p. 161) leciona que o poeta fez uso “da discordância e do contraste, como corretivo a uma concepção estática e homogênea da literatura” numa forma cotidianamente prosaica. Romântico e moderno Azevedo deixou expressa sua procura pelo certo e errado, em seguir regras ou destruí-las.

          Candido (2002) também salienta que os oxímoros poéticos, com desejos e frustações de uma persona literária insegura neste mundo, de Azevedo propicia que os críticos também apresentem opiniões divorciadas sobre sua obra. Em “O poeta moribundo”, ele casa o obscurantismo da morte de forma satírica perfazendo o grotesco.

 

Poetas! amanhã ao meu cadáver

Minha tripa cortai mais sonora!...

Façam dela uma corda e cantem nela

Os amores da vida esperançosa!

 

          Do tema do amor, Álvares também fez uso, tecendo a aspiração à atração física com o contido sentimento de amor. A descrição da musa em sua poética faz-se de forma sedutora, por vezes dormindo, com os seios à mostra, e com cabelos despreparados. O gozo evapora-se no desejo reprimido. O poder do eu lírico definha-se diante do sono da amante. Candido (2002) lembra que sua famosa “Lira dos vinte anos” é marcada por palavras que realçam a palidez imprecisa, através de imagens com vapores e névoas, e a consequente impotência do eu lírico diante da realidade em momentos noturnos.


 

Referências

 

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2000. v 2.

RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002, p. 287-315.

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