quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Foucault: poder disciplinar e biopoder

 

            Foucault afasta-se da visão tradicional de poder, cunhada por Hobbes (poder estatal-jurídico) e Marx (visão economicista). Afasta-se, destarte, de ver o poder como uma relação de ação com caráter repressivo. Ele não observa o poder como algo negativo.

          Foucault preocupa-se com o espaço em que ocorre as relações de poder, atingindo em seus estudos as instituições que não eram tradicionalmente vistas como centrais, como as instituições de ensino. Preocupa-se ele com as minúcias e técnicas da configuração de poder, não com sua relação jurídica-racional, declinando-se duma perspectiva altimétrica de cima para baixo. Vale citar, a obra “O ateneu”, de Raul Pompeia, a qual se atém à repressão física e psicológica num internato.

          Foucault preocupa-se com o objetivo das relações de poder, e, outrossim, que o poder se constitui numa rede de transitoriedade disponível a todos. Ele também salienta que o poder invoca para si a verdade, como forma de legitimar-se. Para ele, o poder não pode ser armazenado por um indivíduo ou grupo social. Impossível alguém ou algum coletivo ser o dono do poder. Foucault descrê da visão antagônica entre dominadores e dominados. O poder possui um aspecto plural

          Para Foucault o poder possui uma característica libertadora. Na célebre obra “Microfísica do poder”, ele leciona que o poder gerar prazer. O poder produz algo positivo, o conhecimento. O poder, através de seus mecanismos, produz discursos capazes de originar ainda mais poder. Para ele, o poder está em toda parte.

          Foucault utiliza-se da História para afirmar a constituição cada vez maior de instituições disciplinares, deixando para trás uma visão legal-racional-religiosa entre soberanos e súditos – o poder soberano.

Criou-se, paulatinamente, então o poder disciplinar que visa a adestração de indivíduos, como as prisões, escolas e fábricas. Tal poder disciplinar possibilita o aumento de saber das pessoas atingidas, com o enaltecimento de habilidades, aptidões e rendimentos. Isso gera consequências, obviamente, no mundo econômico. Para lograr êxito essa forma de poder, obriga-se a uma distribuição massiva de poder. Esse tipo de poder possui como característica a capacidade de observar as pessoas sem que elas percebam ou se preocupem com o controle.

Na rede mundial de computadores, as pessoas observam-se mas, geralmente, não são capazes de detectar quando e quem as vê. Os “hackers” são especialistas em controlar e burlar o controle da própria “web”. A preocupação nessa rede virtual configura-se sobre o conteúdo e o modo de como as informações são acessadas pelos indivíduos.   

Para Foucault a disciplina é uma tecnologia de poder e essencial para o incremento da produtividade do saber, intensificando os efeitos da submissão e utilidade a aqueles submetidos ao sistema. Os dispositivos de tal disciplina configuram-se na intensa vigilância, normatizando a disciplina e atingindo as esferas privada e pública, substituto da violência física; e a sanção disciplina que diminui as condutas consideradas inapropriadas. Para Foucault, tais dispositivos – vigilância e sanção – esperam a normalização dos comportamentos.

O poder disciplinar acabou por criar, aquilo que Foucault chama de biopoder, que atinge não os indivíduos, mas a coletividade. Os saberes da matemática e das ciências naturais passam a ser fontes para essa forma de poder. Questões de higiene pública, políticas públicas de natalidade e a seguridade social são exemplos de biopoder, que, por ora, buscam melhorar a vida das pessoas em sociedade.

O poder disciplinar e o biopoder acabam por originar uma sociedade de normalização para Foucault, com regulamentação individual e social.

Por fim, vale citar a obra de George Orwell, 1984, a qual se embasa no poder estatal, mas relata a submissão aos planos individual e coletivo, numa esfera de regimes totalitários, ao sabor da filósofa teuto-estadunidense Hannah Arendt.


 

Referências

 

COSTA, Rogério da. Sociedade de controle. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 161-167, jan./mar. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000100019. Acesso em: 02 dez. 2020.

POGREBINSCHI, Thamy. Foucault, para além do poder: disciplina e biopoder. Lua nova: revista de cultura e política, São Paulo, n. 63, p. 179-204, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452004000300008. Acesso em: 02 dez. 2020.

 

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