Foucault afasta-se da visão tradicional de poder, cunhada por Hobbes (poder estatal-jurídico) e Marx (visão economicista). Afasta-se, destarte, de ver o poder como uma relação de ação com caráter repressivo. Ele não observa o poder como algo negativo.
Foucault
preocupa-se com o espaço em que ocorre as relações de poder, atingindo em seus
estudos as instituições que não eram tradicionalmente vistas como centrais,
como as instituições de ensino. Preocupa-se ele com as minúcias e técnicas da
configuração de poder, não com sua relação jurídica-racional, declinando-se
duma perspectiva altimétrica de cima para baixo. Vale citar, a obra “O ateneu”,
de Raul Pompeia, a qual se atém à repressão física e psicológica num internato.
Foucault
preocupa-se com o objetivo das relações de poder, e, outrossim, que o poder se constitui
numa rede de transitoriedade disponível a todos. Ele também salienta que o
poder invoca para si a verdade, como forma de legitimar-se. Para ele, o poder
não pode ser armazenado por um indivíduo ou grupo social. Impossível alguém ou
algum coletivo ser o dono do poder. Foucault descrê da visão antagônica entre
dominadores e dominados. O poder possui um aspecto plural
Para
Foucault o poder possui uma característica libertadora. Na célebre obra
“Microfísica do poder”, ele leciona que o poder gerar prazer. O poder produz
algo positivo, o conhecimento. O poder, através de seus mecanismos, produz
discursos capazes de originar ainda mais poder. Para ele, o poder está em toda
parte.
Foucault
utiliza-se da História para afirmar a constituição cada vez maior de
instituições disciplinares, deixando para trás uma visão
legal-racional-religiosa entre soberanos e súditos – o poder soberano.
Criou-se, paulatinamente,
então o poder disciplinar que visa a adestração de indivíduos, como as prisões,
escolas e fábricas. Tal poder disciplinar possibilita o aumento de saber das
pessoas atingidas, com o enaltecimento de habilidades, aptidões e rendimentos.
Isso gera consequências, obviamente, no mundo econômico. Para lograr êxito essa
forma de poder, obriga-se a uma distribuição massiva de poder. Esse tipo de
poder possui como característica a capacidade de observar as pessoas sem que
elas percebam ou se preocupem com o controle.
Na rede mundial de
computadores, as pessoas observam-se mas, geralmente, não são capazes de
detectar quando e quem as vê. Os “hackers” são especialistas em controlar e
burlar o controle da própria “web”. A preocupação nessa rede virtual
configura-se sobre o conteúdo e o modo de como as informações são acessadas
pelos indivíduos.
Para Foucault a disciplina é
uma tecnologia de poder e essencial para o incremento da produtividade do
saber, intensificando os efeitos da submissão e utilidade a aqueles submetidos
ao sistema. Os dispositivos de tal disciplina configuram-se na intensa
vigilância, normatizando a disciplina e atingindo as esferas privada e pública,
substituto da violência física; e a sanção disciplina que diminui as condutas
consideradas inapropriadas. Para Foucault, tais dispositivos – vigilância e sanção
– esperam a normalização dos comportamentos.
O poder disciplinar acabou
por criar, aquilo que Foucault chama de biopoder, que atinge não os indivíduos,
mas a coletividade. Os saberes da matemática e das ciências naturais passam a
ser fontes para essa forma de poder. Questões de higiene pública, políticas
públicas de natalidade e a seguridade social são exemplos de biopoder, que, por
ora, buscam melhorar a vida das pessoas em sociedade.
O poder disciplinar e o
biopoder acabam por originar uma sociedade de normalização para Foucault, com
regulamentação individual e social.
Por fim, vale citar a obra
de George Orwell, 1984, a qual se embasa no poder estatal, mas relata a
submissão aos planos individual e coletivo, numa esfera de regimes
totalitários, ao sabor da filósofa teuto-estadunidense Hannah Arendt.
Referências
COSTA,
Rogério da. Sociedade de controle. São Paulo em perspectiva, São Paulo,
v. 18, n. 1, p. 161-167, jan./mar. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000100019.
Acesso em: 02 dez. 2020.
POGREBINSCHI,
Thamy. Foucault, para além do poder: disciplina e biopoder. Lua nova: revista
de cultura e política, São Paulo, n. 63, p. 179-204, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452004000300008.
Acesso em: 02 dez. 2020.
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