quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Sociology in Brazil

 


            Para Antonio Candido, a Sociologia pode ser dividida em: 1880-1930, 1930-1940 e a posterior a partir de 1940.

            Na primeira fase estiveram presentes pessoas não especializadas que não ensinavam nem teciam pesquisas empíricas. Foram capazes apenas de formular interpretações sobre a população tupiniquim ou parcos princípios teóricos. Os juristas dos oitocentos buscavam interpretação a presença dum Estado moderno, dentro da estrutura política, social e econômica da época, a fim de tecer leis do nosso ordenamento jurídico. O pensamento evolucionista praticado na Europa aqui chegou, aliando tais juristas, aos homens da engenharia e, mormente, da medicina. A preocupação com o refazer histórico aliou-se ao cientificismo das ciências naturais. O pensamento da época teve que ser adequado às nossas excentricidades, abordando temas como mestiçagem e relações escravocratas, pensando, inclusive, no desenvolvimento futuro da nação. A Sociologia era vista, nesse momento, por juristas, como Rui Barbosa, Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda, também como forma de auxílio na elaboração das leis.

O jurista Sílvio Romero, em “Introdução à história da literatura brasileira”, de 1881, originou um marco no pensamento sociológico no Brasil. As obras de Romero procuraram ligar as ciências sociais ao conhecimento das leis biológicas da época. O engenheiro Euclides da Cunha, no início do século XX, com a obra célebre “Os sertões”, merece destaque ao expor seu entendimento acerca da sub-raça sertaneja, causada pelo determinismo do meio físico e pela constituição racial. Para Euclides, a segregação geográfica do povo do sertão foi determinante para forjar sua força. Ele também observou as discrepâncias do Brasil sertanejo (visto como arcaico) e do Brasil litorâneo (visto como mais adequado ao sucesso do desenvolvimento). Outrossim, temos que citar o trabalho do também jurista Oliveira Viana, abarcado pelo pensamento racial de Romero, aprofundando-se nas raízes de nossa formação social a fim de criar um melhor entendimento e gerenciamento das instituições político-administrativas nacionais. Viana acreditava na estratificação de raças e buscou compreender as relações de poder na família e na política desde o Brasil Colônia.

A partir de 1930, o ensino dessa ciência chega aos estamentos das primeiras universidades, com professores estrangeiros e capazes de formar os primeiros brasileiros de extensão universitária nessa área, deixando de lado o autodidatismo. A insurgência na formação de maestros para o ensino regular veio acompanhada das primeiras publicações científicas contribuindo para a institucionalização dessa disciplina, capaz de já fornecerem um melhor cônscio científico da vida social entre os brasileiros. O contexto político da Revolução de 30 influenciou tais inovações, a fim de estudar o negro e o índio brasileiro com a finalidade de normatizar a vida da sociedade brasileira, incluindo a formação cívica. Vale citar a eminente obra “Casa grande & senzala”, do bacharel de Direito Gilberto Freyre, influenciada pela antropologia física e social, geografia humana, economia e psicologia. Freyre foi pupilo, na América do Norte, do renomado Franz Boas, que tinha apego a conceitos modernos de cultura, de adaptação e de raças. O estudo no além-mar foi a forma encontrada por poucos para especializarem-se na disciplina. Na obra supracitada, buscou compreender a origem da estrutura social e política brasileira, concentrada na relação entre latifúndio, trabalho escravo e sistema agrícola. Suas obras são pautadas pela vivacidade literária das palavras, desprendendo-se do linguajar científico muitas vezes.    

Na década seguinte, começou-se a produção regular de pesquisas sociológicas. Destaca-se Fernando de Azevedo com seus estudos sobre a vida artística do país, bem como sua preocupação com educação e aspectos culturais. O professor francês Roger Bastide deteve-se em estudos afro-brasileiros, sob a ótica etnografia e da psicanálise, originando frutos na psicologia social e sociologia da arte. Florestan Fernandes buscou reconstruir o passado em seus estudos sobre povos indígenas, também se deteve sobre métodos aplicados na Sociologia e na interpretação de fatos sociais. Houve maior interesse no desenvolvimento da vida coletiva, as manifestações culturais do interior do país, a arquitetura, a vida do trabalhador das maiores urbes.

Os estudos de Sociologia em nosso solo acabaram por fixar, num primeiro instante, no estado de São Paulo, contemplado por instituições que aferiam seus docentes e discentes através de concursos, financiamento de pesquisas e regime de trabalho integral. Tais condições permitiram as primeiras investigações sobre preconceito de cor e níveis de vida da população em geral. Outrossim, começaram a suscitar organizações e eventos de Sociologia, que foram se alastrando pelo país, com a criação de universidades públicas. A complexidade “sui generis” de nossa sociedade exigiu maior demanda de conhecimento sobre folclore, antropologia cultural, história social, sociologia política, a fim de estudar, por exemplo, o fenômeno da rápida e estendida urbanização.

            Em tempos mais recentes, estudos valorizam as novas formas sociais da vida em espaço urbano, como a resistência de grupos populares à dominação do sistema capitalista, e a representação cultural dos seres humanos consoante o sexo, a idade, a origem.

Referências

 

CANDIDO, Antonio. A sociologia no Brasil. Tempo social, revista de sociologia da USP, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 271-301, 2006.

LOBO, Elisabeth Sousa. Caminhos da sociologia no Brasil: modos de vida e experiência. Tempo social, revista de sociologia da USP, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 7-15, 1992.

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