Por
muito tempo e até hoje ainda, sobrevive o discurso de que o Brasil é uma
democracia racial, em que as diferenças étnicas são valorizadas e respeitadas.
Gilberto Freyre acreditava nessa democracia em virtude de o português dispor-se
a manter relações com as mulheres negras e indígenas.
O
racismo ao elemento negro – pela cor da pele ou pelo comportamento cultural - em
nosso país marginaliza-o, pois o considera maléfico e inferior. Atenua-se a
participação das matrizes africanas e indígenas para a formação da sociedade
brasileira. A fim de legitimar a exploração dos elementos negros e indígenas
por parte da elite nacional, buscou-se a apreensão do racismo científico, a
miscigenação para o embranquecimento populacional e a apologia do mito da
democracia racial.
O
momento colonial foi crucial para a criação de raças inferiores e superiores.
Os viajantes naturais dessa época, com um olhar que julgavam científico,
procuraram construir uma hierarquização de grupos humanos. Os brancos europeus
estavam em posição superior aos demais povos, o mais apto a dominá-los. Em
momento ulterior, no continente americano, a acumulação de recursos geradas pelas
mãos negras foram transferidas aos imigrantes, mormente da Europa. No modo
capitalista, o negro liberto foi deixado analfabeto e sem a habilidade
profissional que o modo de produção capitalista exige.
O interesse em temas
africanos no Brasil buscou focar em seus primórdios nas relações raciais aqui
constituídas a fim de tecerem narrativas acerca da identidade nacional, caso de
Nina Rodrigues, Silvio Romero e Gilberto Freyre. O médico Nina Rodrigues, por
exemplo, defendia que a miscigenação apagaria o elemento inferior negro da
sociedade brasileira no futuro.
Em meados dos anos 50, a
questão racial prossegue de outra forma, rompendo com a visão da democracia
racial, privilegiando o estudo sobre a desigualdade entre brancos e negros em
nossa sociedade.
A redemocratização dos anos
80, em conluio com a descolonização europeia no continente africano e com o
movimento negro estadunidense permitiu uma maior discussão no combate às
desigualdades étnico-sociais no Brasil. Exemplo disso, é a atual Carta Magna de
1988.
Em 2003, criou-se a
Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial. Em 2010 foi
sancionada o Estatuto da Igualdade Racial a fim de garantir a igualdade de
oportunidades e o combate à discriminação à população negra. Tais leis são importantes em face das tensões
étnico-sociais existentes no Brasil.
Dispositivos
legais não são suficientes para atenuar o problema. O incremento de
investimento na educação estatal, bem como ações afirmativas para o maior
acesso da população negra são também importantes.
A
escola configura-se como um dos principais espaços para a formação de
indivíduos a fim da convivência em sociedade. As relações étnico-sociais nesse
espaço são questionadas, pois nele há o privilégio da cultura ocidental. A lei
10639/03 trouxe a obrigação do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana na Educação Básica, a fim de combater a presença da discriminação à
população negra em face das relações de poder pretéritas buscando uma melhor
equidade racial. Vale citar que tal medida visa a superação de preconceitos e a
promoção de igualdade em direitos políticos, sociais e econômicos.
As
diretrizes do Ministério da Educação reforçam que os educandos tenham
consciência da importância cultural da etnia a que pertencem, com o respeito a
todos os grupos étnicos. Junta-se ao tema a importância da
interdisciplinaridade com a necessária formação de docentes com formação
adequada na abordagem do assunto. O revisitar contínuo do pretérito com ênfase
à consciência coletiva alimenta a formação identitária de grupos sociais. Tudo
isso em conjunto deve ser capaz de gerar novos conhecimentos.
Os
estudos acadêmicos mais recentes privilegiam em dar vozes a grupos
politicamente minoritários, promovendo uma maior diversidade nas discussões.
Constata-se que as organizações pátrias dão pouca importância a questão do
racismo, por exemplo. Nas décadas finais do século passados, governos de países
como Estados Unidos e Canadá preocuparam-se em intervir no mercado de trabalho,
a fim de reduzir a discriminação contra minorias.
Apesar dos esforços, a
compreensão sobre o continente africano ainda é incipiente, pois não é capaz de
esmiuçar a conjectura complexa social, político, econômica e cultural desse
lugar, em face, muitas vezes, do não uso de fontes primárias cunhadas por mãos
africanas, com uma visão amiúde ocidentalizada da África.
Referências
HOLANDA
et al. Brasil: uma democracia multiétnica? Cadernos de
graduação – Ciências Humanas e Sociais Fits, Maceió, v. 1, n. 3, p. 39-45,
nov. 2013.
GEVEHR,
Daniel Luciano; ALVES, Darlã de. Educação para as relações étnico raciais: uma
aproximação entre educação, cultura e desenvolvimento. Diálogos interdisciplinares,
v. 9, n. 3, p. 21-38, 2020.
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