Para
Antonio Candido, a Sociologia pode ser dividida em: 1880-1930, 1930-1940 e a
posterior a partir de 1940.
Na
primeira fase estiveram presentes pessoas não especializadas que não ensinavam
nem teciam pesquisas empíricas. Foram capazes apenas de formular interpretações
sobre a população tupiniquim ou parcos princípios teóricos. Os juristas dos
oitocentos buscavam interpretação a presença dum Estado moderno, dentro da
estrutura política, social e econômica da época, a fim de tecer leis do nosso
ordenamento jurídico. O pensamento evolucionista praticado na Europa aqui
chegou, aliando tais juristas, aos homens da engenharia e, mormente, da
medicina. A preocupação com o refazer histórico aliou-se ao cientificismo das
ciências naturais. O pensamento da época teve que ser adequado às nossas
excentricidades, abordando temas como mestiçagem e relações escravocratas,
pensando, inclusive, no desenvolvimento futuro da nação. A Sociologia era
vista, nesse momento, por juristas, como Rui Barbosa, Clóvis Beviláqua e Pontes
de Miranda, também como forma de auxílio na elaboração das leis.
O jurista Sílvio
Romero, em “Introdução à história da literatura brasileira”, de 1881, originou
um marco no pensamento sociológico no Brasil. As obras de Romero procuraram
ligar as ciências sociais ao conhecimento das leis biológicas da época. O
engenheiro Euclides da Cunha, no início do século XX, com a obra célebre “Os
sertões”, merece destaque ao expor seu entendimento acerca da sub-raça
sertaneja, causada pelo determinismo do meio físico e pela constituição racial.
Para Euclides, a segregação geográfica do povo do sertão foi determinante para
forjar sua força. Ele também observou as discrepâncias do Brasil sertanejo
(visto como arcaico) e do Brasil litorâneo (visto como mais adequado ao sucesso
do desenvolvimento). Outrossim, temos que citar o trabalho do também jurista
Oliveira Viana, abarcado pelo pensamento racial de Romero, aprofundando-se nas
raízes de nossa formação social a fim de criar um melhor entendimento e
gerenciamento das instituições político-administrativas nacionais. Viana
acreditava na estratificação de raças e buscou compreender as relações de poder
na família e na política desde o Brasil Colônia.
A partir de 1930, o
ensino dessa ciência chega aos estamentos das primeiras universidades, com
professores estrangeiros e capazes de formar os primeiros brasileiros de
extensão universitária nessa área, deixando de lado o autodidatismo. A
insurgência na formação de maestros para o ensino regular veio acompanhada das
primeiras publicações científicas contribuindo para a institucionalização dessa
disciplina, capaz de já fornecerem um melhor cônscio científico da vida social
entre os brasileiros. O contexto político da Revolução de 30 influenciou tais
inovações, a fim de estudar o negro e o índio brasileiro com a finalidade de
normatizar a vida da sociedade brasileira, incluindo a formação cívica. Vale
citar a eminente obra “Casa grande & senzala”, do bacharel de Direito Gilberto
Freyre, influenciada pela antropologia física e social, geografia humana,
economia e psicologia. Freyre foi pupilo, na América do Norte, do renomado
Franz Boas, que tinha apego a conceitos modernos de cultura, de adaptação e de
raças. O estudo no além-mar foi a forma encontrada por poucos para
especializarem-se na disciplina. Na obra supracitada, buscou compreender a
origem da estrutura social e política brasileira, concentrada na relação entre
latifúndio, trabalho escravo e sistema agrícola. Suas obras são pautadas pela
vivacidade literária das palavras, desprendendo-se do linguajar científico
muitas vezes.
Na década seguinte,
começou-se a produção regular de pesquisas sociológicas. Destaca-se Fernando de
Azevedo com seus estudos sobre a vida artística do país, bem como sua preocupação
com educação e aspectos culturais. O professor francês Roger Bastide deteve-se
em estudos afro-brasileiros, sob a ótica etnografia e da psicanálise,
originando frutos na psicologia social e sociologia da arte. Florestan
Fernandes buscou reconstruir o passado em seus estudos sobre povos indígenas,
também se deteve sobre métodos aplicados na Sociologia e na interpretação de
fatos sociais. Houve maior interesse no desenvolvimento da vida coletiva, as
manifestações culturais do interior do país, a arquitetura, a vida do
trabalhador das maiores urbes.
Os estudos de
Sociologia em nosso solo acabaram por fixar, num primeiro instante, no estado de
São Paulo, contemplado por instituições que aferiam seus docentes e discentes
através de concursos, financiamento de pesquisas e regime de trabalho integral.
Tais condições permitiram as primeiras investigações sobre preconceito de cor e
níveis de vida da população em geral. Outrossim, começaram a suscitar
organizações e eventos de Sociologia, que foram se alastrando pelo país, com a
criação de universidades públicas. A complexidade “sui generis” de nossa
sociedade exigiu maior demanda de conhecimento sobre folclore, antropologia
cultural, história social, sociologia política, a fim de estudar, por exemplo,
o fenômeno da rápida e estendida urbanização.
Em
tempos mais recentes, estudos valorizam as novas formas sociais da vida em
espaço urbano, como a resistência de grupos populares à dominação do sistema
capitalista, e a representação cultural dos seres humanos consoante o sexo, a
idade, a origem.
Referências
CANDIDO,
Antonio. A sociologia no Brasil. Tempo social, revista de sociologia da USP,
São Paulo, v. 18, n. 1, p. 271-301, 2006.
LOBO,
Elisabeth Sousa. Caminhos da sociologia no Brasil: modos de vida e experiência.
Tempo social, revista de sociologia da USP, São Paulo, v. 4, n. 1, p.
7-15, 1992.